Pliometria no futebol




 


INTRODUÇÃO

No futebol ações motoras como saltar e pequenos deslocamentos em altas velocidades utilizam uma alternância de contrações musculares, denominada de ciclo alongamento-encurtamento, ou seja, um mecanismo fisiológico cuja função é aumentar a eficiência mecânica dos movimentos, nos quais ocorre uma contração muscular excêntrica rápida, seguida, imediatamente, por uma ação concêntrica (VOIGHT et al, 2002).

Um dos meios pelo qual se aperfeiçoa o ciclo alongamento-encurtamento é a pliometria. A potência representa o componente principal de uma excelente forma física, que pode ser o parâmetro mais representativo do sucesso no futebol, um desporto que necessita força reativa e explosiva (BOMPA, 2004)

Os exercícios pliométricos são definidos como aqueles que ativam o ciclo excêntrico-concêntrico do músculo esquelético, provocando sua potenciação elástica, mecânica e reflexa (MOURA et al, 2001). O propósito dos exercícios de ciclo alongar-encurtar ou de contra movimento é melhorar a capacidade de reação do sistema neuromuscular e armazenamento de energia elástica durante o pré-alongamento, para que esta seja utilizada durante a fase concêntrica do movimento (DESLANDES et al, 2003). Esses exercícios promovem a estimulação dos proprioceptores corporais para facilitar o aumento do recrutamento muscular numa mínima quantidade de tempo (WILK et al, 1993).

Dessa forma, esta pesquisa tem como objetivo descrever as bases mecânicas, elásticas e neurofisiológicas, formas de treinamento da pliometria, assim como, o seu papel e sua relevância no futebol, enquanto desporto competitivo.
Exercícios pliométricos

Existe uma grande variedade de exercícios pliométricos, os quais devem ser combinados e aplicados de acordo com a necessidade de cada esporte, um exemplo é o futebol, no qual o atleta deverá realizar exercícios para membros inferiores, pois esses atletas requerem força de impulsão para o salto e aceleração para os deslocamentos. A pliometria pode ser aplicada de forma simples, utilizando-se materiais de fácil aquisição, como caixas de madeira, cones, bolas e elásticos (BATISTAet al, 2003).

Os principais tipos de exercícios para membros inferiores são os saltos no lugar, ou seja, os membros inferiores aterrissam no mesmo lugar de onde saltaram e saltos com mudança de direção, nos quais os membros inferiores aterrissam em um ponto diferente de onde saltaram, que pode ser para o lado, para frente ou na diagonal e saltos em profundidade que utilizam caixas e requerem maior experiência, pois são mais agressivos, exigindo mais das qualidades reativas e de explosão muscular (BOMPA, 2004; CISSIK, 2004).

Bases fisiológicas do exercício pliométrico

A fisiologia do ciclo alongar-encurtar é baseada na combinação dos reflexos de estiramento muscular e nas propriedades mecânicas e, principalmente, elásticas do sistema músculo-tendíneo. Quando o músculo contrai concentricamente a maior parte da força produzida é proveniente do componente contrátil, ou seja, da interação entre os filamentos de actina e miosina e pouca energia elástica é armazenada. Como se sabe, a eficiência mecânica do trabalho muscular é de aproximadamente 25%, ou seja, somente esse valor da energia química gasta se converte em energia mecânica, movimento, e os outros 75% são transformados em energia térmica, uma energia que não interessa em termos de desempenho (MOURA, 1994). Com o ciclo excêntrico-concêntrico, o rendimento muscular é 25% a 40% maior, devido à "energia gratuita" fornecida pelo armazenamento e recuperação da energia elástica, contribuindo para a economia do gesto esportivo (BISCIOTTI et al, 2002). Porém, para que isso aconteça é necessário que se realize um pré-alongamento de pequena amplitude, grande velocidade e tempo de amortecimento bastante curto, caso contrário, muita dessa energia será dissipada em calor(MOURA et al, 2001).

Dessa forma, o exercício pliométrico é um meio que pode melhorar a força e potência muscular com recrutamento seletivo de fibras tipo IIb, haja visto que essas fibras respondem melhor ao pré-alongamento de alta velocidade e pequena amplitude (MOURA et al, 2001; COHEN et al, 2003). Portanto, os atletas de futebol necessitam o recrutamento de fibras musculares de contração rápida, o que lhes confere uma pré-qualificação importante para o desencadeamento da potenciação muscular através de exercícios pliométricos (BATISTA et al, 2003).

Segundo Wilk et al (1993), a pliometria é capaz de melhorar a eficiência neural e aumentar o controle neuromuscular. A utilização do pré-alongamento pode permitir que o atleta de futebol adquira uma melhor coordenação das atividades de específicos grupos musculares, a qual causa uma adaptação neural capaz de incrementar a produção de força reativa. O aumento da força reativa conseguida com o ciclo alongamento-encurtamento resulta tanto do armazenamento de energia elástica durante o pré-estiramento e sua reutilização como energia mecânica durante a contração concêntrica, como da ativação do reflexo miotático, porém, a porcentagem de cada um desses fatores não é conhecida (VOIGHT et al, 2002).
Utilização da pliometria na reabilitação

Os exercícios pliométricos são usados no treinamento de atletas para desenvolver força reativa, melhorar a reatividade muscular através da facilitação do reflexo miotático e da dessenssibilização dos OTGs e melhorar a coordenação intra e extra articular (MYERS et al, 2000; DESLANDES et al, 2003; HOWARD, 2005). Analisando os efeitos desses exercícios, acredita-se que estes podem ser benéficos na prevenção de lesões e também na reabilitação, principalmente de atletas de futebol (HILLBOM et al, 2005).

Esses exercícios passaram a fazer parte dos programas de reabilitação há pouco tempo (HOWARD, 2005). Os exercícios para membros inferiores, como os saltos em profundidade, são mais populares e bem mais descritos na literatura do que os para membros superiores, porém, o uso desses exercícios na reabilitação de atletas é cada vez mais comum (DAVIES et al, 2004), principalmente para goleiros de futebol. Incorpora, com isso, movimentos de específicos grupos musculares necessários para o melhor rendimento do atleta (FRONTERAet al, 2003). Esse treinamento recria o tipo de contração excêntrico-concêntrica vivida durante atividades atléticas e é parte vital da reabilitação do ombro do atleta (MYERSet al, 2000).

Bisciotti, Vilardi e Manfio (2002) relataram haver diminuição da capacidade elástica da musculatura, após lesão muscular, demonstrando a importante perda das características elásticas da musculatura extensora de joelho após a lesão e cirurgia de reconstrução de ligamento cruzado anterior, LCA, bem como, afirmaram que o elemento elástico em série possui função protetora das estruturas articulares e periarticulares em caso de brusca e repentina contração muscular, portanto, aqueles atletas que não promovem a potenciação muscular, limitam a estocagem e a restituição da energia elástica, se expondo a maiores riscos de lesões, principalmente traumáticos e na fase excêntrica do movimento.

Prentice e Voight (2003) afirmam que um fuso muscular com nível de sensibilidade baixo possui menor capacidade para superar o estiramento rápido e assim, produz uma resposta menos vigorosa. Deslandes et al. (2003) relatam que o indivíduo que realiza atividades com ciclo alongar-encurtar, ocorre uma melhor sincronização da atividade muscular e da atividade miotática, portanto, um programa de exercícios pliométricos, aumenta a eficiência neural, corrigindo déficits proprioceptivos e melhorando o desempenho neuromuscular.

Parâmetros para o desenvolvimento do programa de exercícios pliométricos

A especificidade do exercício é um dos principais fatores para se obter um resultado eficaz com os exercícios pliométricos. Os movimentos específicos de cada esporte devem ser analisados pelo treinador e um programa de exercícios pliométricos deve seguir as exigências de cada desporto (PRENTICE et al, 2003; BOMPA, 2004).

Para elaborar um plano de tratamento usando a pliometria, o preparador deve estar ciente das inúmeras variáveis que afetam esses exercícios e dos objetivos que se quer alcançar com cada esporte e com cada indivíduo (DAVIES et al, 2004). As principais variáveis que devem ser estipuladas são: intensidade, volume e freqüência, porém outras variáveis, como o sentido do movimento corporal, a carga externa e o repouso, devem ser consideradas (PRENTICE et al, 2003).

O aumento da velocidade de execução do exercício aumenta a demanda de treinamento sobre ele, portanto, quando um novo exercício pliométrico é iniciado, deverá ser feito em velocidade e em um tempo de amortização menores, até que o atleta esteja pronto para progredir (NUTTING, 2004).

Não há consenso quanto ao volume, intensidade e freqüência ideais tanto para treinamento ou a reabilitação de atletas, porém é sabido que diferentemente do treinamento desportivo, no qual os exercícios chegam a um nível máximo, os exercícios pliométricos na reabilitação podem chegar a níveis submáximos (DAVIES et al, 2004).

Andrews, Harrelson e Wilk (2000) orientam a aplicação desses exercícios numa freqüência de no máximo 2 a 3 vezes por semana. O tempo de repouso é uma variável muito importante a ser considerada, haja visto que a pliometria pode causar fadiga, que é o resultado do esgotamento de energia contida nos músculos, como o ATP e o fosfato de creatina e também pela produção e acúmulo de ácido lático (BOMPA, 2004). No momento em que ocorre a fadiga, o controle motor fica deficitário e os efeitos do treinamento se perdem (PRENTICE et al, 2003). Por ser a pliometria um exercício de impacto, que envolve várias articulações, o alinhamento corporal correto deve ser orientado e corrigido pelo preparador. O excesso de exercícios sem um período de repouso adequado, assim como a aplicação da pliometria em fase inicial do tratamento são fatores que podem piorar a lesão ou até mesmo causar novas lesões (DESLANDES et al, 2003).

Na pliometria, podem ser geradas cargas biomecânicas extremas e o tecido conjuntivo dos pés, tornozelo, quadril e discos intervertebrais amortecem o choque para dissipar o estresse imposto por um salto. As lesões ocorrem quando forças exteriores agem nas articulações, excedendo a integridade estrutural dos músculos, ossos, e tecidos conjuntivos, por isso um programa de treinamento de força deve ser realizado antes do início dos exercícios pliométricos e deve envolver tanto a musculatura dos membros, como os estabilizadores da postura, como os abdominais e extensores da coluna (BOMPA, 2004).

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Conclusão

A literatura tem demonstrado que o treinamento pliométrico influência na resposta reativa muscular, melhorando a sincronização da atividade muscular e da atividade miotática. Nesta perspectiva, um programa de exercícios pliométricos, deve aumentar a eficiência neural, corrigindo déficits proprioceptivos e aprimorando o controle neuromuscular.

A literatura destaca a pliometria, além de um importante instrumento na reabilitação de lesões, como efetiva na prevenção destas, pois um bom controle motor atua como um mecanismo protetor capaz de ativar as vias de estabilização reflexas, feed foward, ocasionando uma resposta motora mais veloz diante de forças ou traumas inesperados. A pliometria é, portanto, uma forma de se obter força reativa e melhorar a propriocepção ao mesmo tempo.

A possibilidade de utilizar a pliometria como atividade estimuladora da potenciação muscular, surge como uma alternativa interessante aos treinadores de futebol. Entretanto, é fundamental para o preparador físico conhecer o conceito e a aplicação da pliometria no treinamento, na prevenção e no tratamento das lesões esportivas, para que possa elaborar um programa seguro e eficiente.

*Thiago Corrêa Duarte, Acadêmico, ESEF/ UFRGS
Roberto Lampert Ribas, Acadêmico, ESEF/ UFRGS
Jefferson Fagundes Loss, Ph.D., ESEF/ UFRGS

Referências

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BATISTA, M. A.B; COUTINHO, J.P.A; BARROSO, R.; TRICOLI, V. Potencialização: a influência da contração muscular prévia no desempenho da força rápida. R. Bras. Ci. e Mov, Junho 2003,1(2): 07-

BISCIOTTI, G.N., VILARDI, N.P.J.; MANFIO, E.F. Lesão traumática e déficit elástico muscular. Fisioterapia Brasil, Julho/Agosto, 2002, 3(4): 242-9.

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Pliometria aplicada à reabilitação de atletas

PRENTICE, W.E.; VOIGHT, M,L. Técnicas em reabilitação musculoesquelética. Porto Alegre, Artmed, 2003.

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AUTORES

Thiago Corrêa,Roberto Lampert,Jefferson Loss.



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Pliometria no futebol Pliometria no futebol Editado por Dani Souto Esporte Educacional on 10:55 Nota do Post: 5

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